Perspectiva(?)
O dia de Wendel começa como o de muitos moleques de 12 anos, sendo acordado praticamente à força para ir à escola de manhã. Ele mora na entrada do Morro da Coroa, no Catumbi, mas sua história se repete nas centenas de favelas cariocas. 
Menino brincando na favela Nova Holanda. Foto: Adair Aguiar
Ele vai à escola porque é obrigado pela família, e também porque gosta de encontrar os amigos, fazer bagunça e jogar bola. Para ele estudar é muito chato, as matérias não fazem sentido, as professoras são desinteressadas, dentro de sala não tem nenhum atrativo.
Wendel só vai à escola porque tem que ir, e está com dificuldades para passar de ano desde que acabou a aprovação automática. Cursando o 5º ano, antiga quarta série, ele mal sabe ler uma frase inteira.
Na verdade poucos chamam Wendel pelo seu nome, talvez só os professores mesmo. Na maior parte do tempo ele atende pelo apelido de Miúdo, por causa de seu tamanho.
Miúdo aparenta ter no máximo 8 anos, é realmente muito pequeno para a sua idade. Ele às vezes sofre com seus amigos, mas também sabe tirar algum proveito do seu tamanho e sua cara. 
A diversão trascende as dificuldades, menino brinca com sacola de mercado no morro do Alemão. Foto: Adair Aguiar
Quando sai da escola Miúdo fica livre, solto na rua. Pode fazer o que quiser, e não tem nada para fazer. Fica andando pela rua, joga bola, brinca com amigos. Quando está calor, ele pede um trocado dos vizinhos que moram numa casa grande que fica no começo da rua.
Geralmente Wendel usa o dinheiro pra tomar uma coca-cola, jogar no fliperama, ou, se estiver muito quente, dar um mergulho na piscina do outro vizinho. É que outro vizinho tem uma casa de festas, com uma piscina grande, que quando não é usada é “alugada” aos moleques que moram na rua por um ou dois reais o mergulho. 
Pequeno jogador posa com bola na mão no Conjunto habitacional Bandeirantes, no Recreio. Foto: Adair Aguiar
Wendel é o segundo de quatro irmãos. O mais velho tem 14 anos, a irmã tem 5 e tem um menor de 2. O pai era traficante e está preso. Seu irmão mais velho, Jonathan, já deixando para trás a inocência da infância, gasta seu tempo livre, que é grande, andando pela favela, geralmente fica em alguma boca-de-fumo conversando, olhando as armas e as meninas. Ultimamente Jonathan tem andado bastante revoltado e nem à escola tem ido mais.
Miúdo gosta mesmo é de jogar bola, andar de bicicleta, pular na piscina. Para a pergunta que fica é: Até quando?
A menina brinca numa rede amarrada num alambrado numa quadra de futebol no Alemão. Foto: Adair Aguiar
As fotos dos “Miúdos” que ilustram esta matéria são do fotógrafo Adair Aguiar, nascido e criado no Complexo do Alemão. Hoje ele dá aulas de fotografia e participa de diversos projetos em comunidades carentes. Conheça melhor a história e o trabalho deste "Fotógrafo Popular".
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